Muito tem se falado na Fórmula 1 sobre a pressão das grandes equipes em aprovar uma regra que permitiria a venda de chassis entre as equipes da categoria, na prática as equipes grandes vendendo seus carros – com 1 ano de defasagem, pelo que se comenta – para outras equipes menores. Eu sou contra.
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A Fórmula 1 pelo menos nos últimos 30 anos se tornou uma categoria diferenciada, entre outros fatores, justamente por cada equipe trazer para a pista a sua própria interpretação do regulamento, com carros de diferentes desenhos e por vezes, com diferentes soluções e mesmo que o regulamento técnico cada vez mais restritivo esteja quase padronizando as aparências, a ainda aguardamos o mês de janeiro para ver cada um dos 10 ou 11 carros apresentados e o que eles trazem de diferentes de seus rivais. Se a categoria aprovar essa mudança proposta, isso acabará.
Em sendo aprovada, veremos Red Bull, Mercedes, Ferrari, McLaren e Williams com carros novos e as demais comprando seus modelos antigos e encerrando as complexas áreas de desenvolvimento já existentes em suas fábricas, demitindo centenas de pessoas e dando adeus às possibilidades de um dia trazerem uma solução diferente, já que terão um pacote pronto.
Mais do que isso, cria-se na prática uma sub-categoria interna na Fórmula 1 de equipes que provavelmente nunca poderão superar suas fornecedoras na pista, pois seus carros estarão sempre defasados em relação aos de suas fornecedoras e não terão como criar algo novo e engenhoso para subverter o menor poder feinanceiro. Além disso, as vendedoras podem não liberar todas as informações ou as versões mais eficientes para seus clientes exatamente para garantir que não se repita o que vimos em 2008 quando a Toro Rosso superou a Red Bull (mas naquele ano os chassis eram iguais, diferente da proposta atual) ou de 2007, quando a pequena Super Aguri usando o chassis RA106 dava trabalho à equipe matriz Honda com seu deficiente RA107 (foto abaixo).
Continuando nesse exemplo, quando a Honda cortou o dinheiro da Super Aguri, a equipe acabou e mesmo que quisesse continuar, não teria como pois não tinha um setor de projetos para fazer um carro do zero, o quer evidencia a importância de termos equipes independentes e plenamente capazes sob o ponto de vista técnico no grid, argumento que o diretor técnico da Force Índia Bob Fernley exemplifica:
“Quando a Honda abandonou, foi Ross Brawn, como equipe independente que salvou o dia, assumindo e vencendo o campeonato. Quando a BMW saiu, foi Peter Sauber que assumiu, a um enorme custo, e salvou a equipe. Quando a Renault abandonou, foi Gerard Lopez que assumiu como independente e salvou o dia. Quando a Toyota abandonou, tudo foi perdido” exemplifica, “Esse é o risco que você assume quando perde equipes independentes, porque elas existem apenas para competir”
E esse é um risco real: Se uma fabricante como a Mercedes ou Red Bull, que está na Fórmula 1 para fazer marketing de suas marcas resolve ir embora pois acham que já atingiram seus objetivos ou que não vale mais a pena como nos fartos exemplos acima, as equipes que compram seus carros seriam diretamente afetadas e não teriam como construir seus chassis, passando a depender diretamente de outro fornecedor (quem garante os custos baixos? Vejam os motores atuais) já que não teriam mais essa área em suas fábricas nem dinheiro para construí-la de um ano para o outro.
Monisha Kaltenborn, chefe da Sauber endossa: “De jeito nenhum é uma boa ideia. Eu não posso sequer concordar com esse argumento que vai reduzir custos. Fórmula 1 é sobre construtores. F1 precisa desse desafio em seu DNA, nunca foi diferente. As pessoas gostam de ver a Williams e a Force Índia realmente próximas de superar uma equipe realmente grande”
E ela usa outros argumentos igualmente sólidos: “Você terá patrocinadores A e B? Eles terão direitos diferentes? Correr atrás de patrocinadores com o conceito de que você jamais estará no pódio nas próximas temporadas será impossível”, no que Fernley corrobora e explica de forma categórica: “vamos deixar claro: você terá equipes que vão competir e equipes que vão apenas participar.” E nesse sentido pontuar seria muito mais difícil, já que com 5 equipes fornecedoras (prováveis detentoras das 10 primeiras posições de uma corrida) a batalha das defasadas seria para ver quem chegaria em 11º para trás, sem falar no aumento de poder das equipes grandes, que forçariam a aprovação de regras que os beneficiem junto às menores que se veriam forçadas a aceitar para não sofrerem boicotes indiretos, atrasos de atualizações, descontos menores, etc.
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Como o jornalista Joe Saward uma vez lembrou, a Fórmula Indy foi por esse caminho de venda de chassis e se no começo chegaram a ter várias marcas como Penske, Chaparral, Longhorn, Wildcat, Swift, Coyote, McLaren, Eagle, March, Reynard e Swift, com o tempo os custos aumentaram e só as grandes tiveram dinheiro para manter a competitividade e as menores (algumas nem tanto) foram abandonando até se tornar uma categoria monomarca como hoje é com a Dallara. A Fórmula Indy hoje é ruim? Claro que não, mas a Fórmula 1 nada teria a ganhar copiando uma categoria que já existe e que aliás, nunca retomou o sucesso de 20/25 anos atrás.
Hoje podemos não ter 10 equipes competitivas no grid, mas todos tem a ambição de melhorar por seus próprios méritos e não é virando freguês de equipe grande que conseguiriam superá-las. A Fórmula 1 tem que pensar em reduzir seus custos, não em fortalecer politicamente o clubinho das equipes já ricas lhes dando mais dinheiro e a certeza de que continuarão dominadoras e mandando nas regras. Vendas de chassis e equipes-cliente? Sou FRONTALMENTE contra.
cara, que post!!! perfeitamente claro e preciso… parabéns!!!.
Muito bom texto, sou completamente de acordo com sua opinião, se não aguenta nem desça pro play…
E de que adianta uma equipe com seu próprio chassi sendo que não conseguem ao menos evoluí-lo? (que é o caso nítido da Sauber). Acho que deve SIM existir venda de chassi mas por exemplo apenas para as 3 piores equipes do campeonato anterior e de forma temporária (por uma ou duas temporadas) para assim possam concentrar seus orçamentos em um carro próprio para que nos próximos anos façam um modelo totalmente original.
De qualquer forma, chassis iguais aumentaria mais o monopólio das grandes, e chassis diferentes também existe o problema de desenvolvimento do carro que praticamente é sempre interrompido em equipes menores devido ao grande custo (se fosse pensar em tanta independencia, porque não fazem também motores próprios?) o que chega a ser ridículo só de pensar; Mas concluindo parece que qualquer que seja o caminho, a F1 estará na merda por um bom tempo…
“de que adianta uma equipe com seu próprio chassi sendo que não conseguem ao menos evoluí-lo?” A resposta está no texto (categoria paralela, chance ZERO de ganhar, etc). Sobre os motores, os contratos são para fornecer motores IGUAIS, e se fossem vender carros, seriam DO ANO ANTERIOR, portanto, bem inferiores e sem chances NENHUMA de vencer… Veja a Sauber nesse ano, mesmo com o segundo pior orçamento está em 5º num campeonato de 10, quando deveria estar em 9º. Se chassis fosse da Ferrari de 2014, por exemplo, não estaria em 5º nem f***. E é isso que motiva as equipes médias, e também faz com que consigam patrocínios..
Do jeito que é agora, pelo menos uma equipe média consegue beliscar um pódio ou outro na temporada (para exemplo, olha os pódios do ano passado, quantas equipes médias conseguiram), e se conseguirem um diferencial, conseguem brigar por vitórias (Brawn GP em 2009, se a falida equipe Honda não tivesse estrutura (engenheiros, equipamentos, etc, etc, etc) para construir carros novos, eles NUNCA teriam sido campeões)… ou seja, EXISTE SIM UMA CHANCE, mesmo que pequena, de conseguir fazer um carro bom e com isso pódios e vitórias, e assim conseguir patrocínios e com isso conseguir contratar melhores profissionais e assim ir crescendo ano a ano até que se tornem grandes, mesmo sem serem montadoras… agora, se venderem os carros ANTIGOS, a chance de conseguir um pódio é ZERO… NUNCA vão conseguir… muito menos uma vitória… iriam SEMPRE disputar o 11º lugar… só chegariam aos pontos em caso de quebra dos outros, e num final de semana que se encaixe melhor com o carro, e assim NUNCA vão conseguir patrocínios DECENTES e assim NUNCA vão crescer… portanto, irão ABANDONAR a categoria…
acho que assim consegues entender um pouco mais… se não conseguires, tens que abrir um pouco a cabeça e perceber que também podemos estar errados, e aprender com os erros… 😉
Concordo plenamente! Acho essa ideia terrível!
Concordo plenamente, precisamos aproximar as menores das maiores e afastar ainda mas, tornando um mundo feito para: Williams, Ferrari, McLaren, Red Bull e Mercedes!!!
Correção: A F1 precisa aproximar, não afastar ainda mas as menores das maores, gostaria de ver a categoria ainda mas competitiva!!!
Excelente! nada a acrescentar.. assino embaixo
otima materia, mas vale uma observação isso ja acontece os motores que algumas equipes usam. exemplo willians com motor mercedes que nunca vai chegar ao topo pois esta s
empre desatualizada Bom seria se cada equipe tivesse grana para investir em seus carros contruir seus motores e tudo mais.
Bom texto José Inácio, mas sugiro dois importantes meios para ajudar os times mais fracos como, por exemplo a entrada de um novo time a partir de 2017 possa correr somente com um chassi nos dois primeiros anos e também voltar com as corridas extra campeonato amistosas na Europa em dezembro só para times com orçamento menor para conseguir uma grana extra e ajudar na obtenção de patrocínios, isso seria super legal para categoria e claro lutar pela redução de custos ao longo de cada temporada.
Gostaria de lembrar que grandes pilotos surgiram das chamadas equipes privadas. A mais bem sucedida delas foi a Rob Walker Racing. Que comprava chassis Lotus. E para quem não sabe, a primeira vitória de um Lotus na F-1, foi com um carro da Rob Walker Racing, ou seja um carro privado. Mônaco 1960 com o britânico Stirling Moss.Somente no ano seguinte a Lotus venceu pela primeira vez com um carro oficial.
Frank Williams foi competidor privado (comprando chassis da March entre outros) de 1969 a 1975. Sei que são outros tempos, mas não podemos desprezar que a venda de chassis já foi um ótimo negócio para os construtores. Lotus, McLaren, Brabham, e até a Ferrari, todos vendiam chassis. A última aparição de um carro privado foi em 1980.
Eu ia citar isso. Parabéns por compartilhar seu comentário para mostrar o outro lado dos argumentos do texto principal
Mas atualmente esse modelo como está proposto só iria fortalecer as grandes e colocar as médias e pequenas ainda mais sob seu domínio – financeiro e agora técnico.
Perfeito!
Você mudou a minha opnião a respeito disso. Realmente é uma coisa muito ruim., tomara que jamais aconteça.
A F1 corta na carne os custos ou Só quer que as equipes o façam. Pagar um valor altíssimo para um país receber as provas não ajuda…