“E agora, Bottas?
A corrida acabou,
o pódio sumiu
o novato passou,
seu nome esfriou,
e agora, Bottas?”

Com esse sacrilégio à poesia de Carlos Drummond de Andrade, começo meu texto abordando o resultado de Valtteri Bottas nesse final de semana, que teve momentos que pareciam indicar um bom desfecho para ele.

Mas não. Mesmo saindo da pole position (por mínima vantagem) e ainda do lado limpo da pista, onde a aderência e portanto largada é melhor, ele perdeu a ponta para Russell e quase perde mais para Perez, Verstappen e até para o erro de Leclerc.

Ok, mas ele podia dar o bote e reagir. Mas dali em diante foi dominado por um piloto que nunca havia pilotado aquele carro antes e estava sabidamente apertado e desconfortável a bordo, com seus 11cm a mais que o o titular Hamilton e ainda no processo de aprendizagem para se entender melhor com aquele equipamento.

Russell passou e abriu de Bottas e quando parou no box, abriu ainda mais. Não sendo ameaçado hora nenhuma pelo piloto que deveria estar à frente por sua maior familiaridade com o carro e mais de quatro vezes sua de experiência na categoria, sendo quatro com aquela equipe.

Depois, numa sucessão de erros canhestros e vexaminosos da equipe, ambos foram os prejudicados na parada de boxes e o novato teve que parar novamente para destrocar os pneus errados e assim voltou em quinto, justamente atrás do finlandês. E o que aconteceu? Russell o passou com certa facilidade e repetiu a dose com os demais pilotos à sua frente, enquanto nosso protagonista, que esteve em quarto até agora, lembre-se, foi sendo escalado não só por Russell, mas também por Sainz, Ricciardo, Albon e Kvyat.

Quis o sorrateiro destino, entretanto, que quando o novato se aproximasse do líder, ainda enfrentasse um pneu furado e outra parada nos boxes (sua quarta!), lhe ceifando assim as chances de vitória ou mesmo pódio, derrubando-o para 14° no pelotão. Mas Russell não se abalou e remou novamente até chegar em 9°, atrás justamente de Bottas, já caidaço em oitavo…

Mas lembre-se: esse artigo não é para exaltar Russell e nem para desancar Bottas. O objetivo é entender as possíveis consequências desse resultado para um piloto que estava a bordo do melhor carro e que foi tão mal, comparativamente ao seu companheiro de equipe inexperiente e que ainda enfrentou revezes até maiores que o seu.

Certamente se questionado ele terá várias justificativas absolutamente razoáveis, como o pit-stop desastroso que o devolveu para a pista com os mesmo pneus velhos que usava quando entrou, só que mesmo descontando isso – ele parou 2 vezes a menos que o inglês – ele foi superado e dominado quando as condições eram iguais e sai queimado no primeiro embate direto com seu virtual substituto. Sua sorte é que a Mercedes não busca um protagonista para ladear Hamilton e justamente por isso seguirá em 2021.

Mas agora todos ficaram com a impressão que ele é isso: um bom piloto, longe de desastroso, dono de um desempenho regular, por vezes inconstante, que não comete erros demais, com azares e brilharecos eventuais, mas que noves fora, não extrai o melhor do carro com a intensidade ou frequência necessárias para fazer sombra para o grande campeão e, pelo visto, nem ao novato talentoso. Que nos prove diferente, tempo e equipamento para isso sabemos que ele tem.

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